Amazônia: sumidouro de carbono e reservatório de biodiversidade
A floresta amazônica desempenha papéis fundamentais tanto no ciclo global do carbono quanto na manutenção de altos níveis de biodiversidade no planeta. Sua vasta cobertura vegetal retira quantidades significativas de gás carbônico da atmosfera, enquanto abriga uma enorme variedade de espécies animais e vegetais, muitas delas endêmicas da região.
Estoque de carbono da Amazônia
A biomassa das árvores e demais plantas da Amazônia armazena uma quantidade extremamente elevada de carbono. Estima-se que a floresta guarde entre 100 e 200 bilhões de toneladas métricas de carbono, dependendo do método de cálculo.
Isso equivale a cerca de 10% a 15% de todo o carbono contido nas florestas de todo o mundo. Portanto, a Amazônia responde por uma parcela desproporcionalmente alta do estoque global de carbono florestal.
Anualmente, por meio da fotossíntese, as árvores da região retiram da atmosfera algo entre 0,5 e 1 bilhão de toneladas de CO2, transformando o gás carbônico em biomassa vegetal. Parte desse carbono é devolvido à atmosfera pela respiração das plantas, morte e decomposição de matéria orgânica. Mas o saldo ainda é uma retirada líquida de carbono da atmosfera.
“Sem a Amazônia, as concentrações de CO2 na atmosfera seriam bem maiores do que são hoje”, explica o ecólogo Paulo Moutinho, do IPAM.
Comparação do estoque de carbono (em bilhões de toneladas métricas)
| Reservatório | Carbono estocado |
| Oceanos | 1.000 |
| Amazônia | 100 a 200 |
| Florestas boreais | 200 a 300 |
Ameaça das mudanças climáticas ao bioma
Entretanto, as recentes taxas recordes de desmatamento e os incêndios que assolam a região têm provocado uma intensificação nas emissões de CO2.
Além disso, estudos apontam que o aquecimento global pode levar à savanização de parte significativa da Amazônia nas próximas décadas. Isso ocorreria se as temperaturas ultrapassarem um certo limiar, comprometendo o ciclo hidrológico que sustenta a floresta tropical úmida.
“Um ‘ponto de não retorno’ para a Amazônia seria atingido se 20% a 25% da floresta original for destruída”, alerta o climatologista Carlos Nobre.
Portanto, as mudanças climáticas representam ao mesmo tempo uma ameaça existencial ao bioma amazônico é um fator que pode desestabilizar ainda mais o clima global, num ciclo de feedback positivo perigoso.
Biodiversidade gigantesca abrigada na região
Além de sumidouro crucial de carbono, a Amazônia se destaca globalmente por sua exuberante biodiversidade, abrigando uma parcela significativa das espécies do planeta:
– Estima-se que a região abrigue 10% de todas as espécies conhecidas atualmente.
– Mais de 40 mil espécies de plantas já catalogadas, incluindo árvores, arbustos, ervas e samambaias.
– 2,5 milhões de espécies de insetos identificadas, mas estima-se que pode haver mais de 6 milhões.
– Cerca de 3 mil espécies de peixes foram descritas para a bacia amazônica.
– 1.300 espécies de aves já registradas.
– 427 espécies de mamíferos mapeadas até o momento.
– Centenas de répteis como crocodilos, tartarugas, serpentes e lagartos.
E muitas outras espécies potencialmente ainda não descobertas pela ciência, especialmente de insetos, anfíbios e microorganismos. Novas descobertas ocorrem frequentemente na região.
Alta taxa de endemismo na fauna e flora
Além da enorme biodiversidade, outro aspecto notável na Amazônia é o alto grau de endemismo de várias espécies. Ou seja, sua ocorrência é restrita a essa região e não é encontrada em nenhum outro lugar.
Por exemplo, estima-se que cerca de 55% dos peixes da bacia amazônica sejam endêmicos.
Entre as aves, o endemismo chega a 19% na Amazônia brasileira.
Para anfíbios, 68% das espécies amazônicas são endêmicas, e para répteis esse percentual é de 45%.
Isso significa que a perda de habitats na Amazônia levaria à extinção irreversível dessas espécies únicas no mundo.
A floresta funciona como o reservatório desse patrimônio genético único, fruto de milhões de anos de evolução na região.
“É uma biblioteca da vida ainda não totalmente conhecida e que só existe na Amazônia”, compara a bióloga Flávia Costa, da Universidade Federal do Oeste do Pará.
Avanço do desmatamento ameaça biodiversidade
O avanço acelerado do desmatamento, sobretudo nas últimas quatro décadas, já provocou perdas significativas de habitats e está levando diversas espécies amazônicas à beira da extinção.
Estima-se que cerca de 17% de toda a floresta amazônica original já foi desmatada.
Embora ainda seja uma proporção relativamente pequena de toda a bacia, o aumento exponencial do desmate nas últimas décadas gera apreensão.
Algumas das consequências já perceptíveis para biodiversidade:
– Fragmentação de habitats pelo desmatamento cria ilhas de floresta isoladas.
– Muitas áreas protegidas sofrem pressão e até invasões por grileiros e madeireiros ilegais.
– Caça predatória reduz populações de mamíferos como anta, queixada e tamanduá.
– Incêndios florestais se tornam mais frequentes.
– Espécies de árvores madeiráveis com alto valor econômico estão ameaçadas pela exploração predatória.
“Se o desmatamento prosseguir nesse ritmo, podemos sofrer uma perda irreparável da biodiversidade amazônica ainda neste século”, alerta a bióloga Isabel Jones, da Universidade Federal de Pernambuco.
Iniciativas para conservação na Amazônia
Existem diversas iniciativas governamentais e da sociedade civil com foco na conservação ambiental e proteção da biodiversidade na Amazônia:
– Unidades de Conservação federais, estaduais e municipais cobrem cerca de 50% da floresta amazônica brasileira.
– Demarcação de Terras Indígenas, que são efetivas barreiras ao desmatamento.
– Organizações socioambientais atuam em projetos locais de uso sustentável, reflorestamento e vigilância.
– Moratórias contra commodities provenientes de áreas desmatadas ilegalmente.
– Pagamentos por Serviços Ambientais para incentivar preservação em propriedades privadas.
– Reflorestamentos para recuperação com espécies nativas.
– Manejo sustentável de recursos naturais por populações tradicionais.
Porém, tais iniciativas precisam ser grandemente ampliadas e fortalecidas para conter os impactos crescentes sobre a biodiversidade.
Mais recursos e compromisso político são requeridos para evitar que a Amazônia se aproxime de um ponto de inflexão além do qual a destruição se torne irreversível.
Perguntas frequentes
Qual a importância da Amazônia para o clima global e a biodiversidade?
Por seu enorme estoque de carbono e alta taxa de fotossíntese, a Amazônia exerce papel vital no ciclo global do carbono.
Abriga também 10% das espécies já catalogadas, com alto endemismo.
Como o desmatamento ameaça a floresta amazônica?
O desmate e as queimadas liberam CO2, minam o ciclo hidrológico regional e destroem habitats irreversivelmente. Se ultrapassar 20 a 25% de área desmatada, a Amazônia corre risco de savanização.
O manejo florestal sustentável pode conciliar conservação e economia?
Sim, o extrativismo comunitário, produção de castanha e seringa em bases sustentáveis são exemplos de como prosperar economicamente sem desmatar.
As áreas protegidas são suficientes para proteger a biodiversidade amazônica?
Apesar de fundamentais, as áreas protegidas ainda são insuficientes e insuficientemente fiscalizadas. São necessárias outras estratégias econômicas e políticas integradas.
Conclusão
A floresta amazônica cumpre funções ambientais vitais em escala local e global, seja como reservatório de carbono, regulando o clima, ou como abrigo de parcela significativa da biodiversidade mundial.
O desmatamento crescente coloca em risco a resiliência desse bioma único, podendo levar a uma perda irreversível de espécies e ao colapso do ciclo hidrológico regional.
A reversão desse quadro dependerá de esforços conjuntos dos países amazônicos e da comunidade internacional para proteger e promover o uso sustentável desse patrimônio socioambiental essencial para o planeta.